Se não tem tempo para ler, tem tempo para pensar?

Há semelhança de muitos, o verão devolve-me sempre à leitura.
São os dias maiores, as férias e, no nosso caso particular, a acalmia na produção de conteúdos que surge entre o fecho das campanhas de 2017 e a programação de 2018. É nesta maré vaza que aproveito para pegar em alguns dos artigos e livros que ficaram para trás e tento recuperar andamento.

Talvez porque vivemos um quotidiano que é uma torrente de informação diária, tenho optado por textos clássicos ou contemporâneos que abordem temáticas numa perspetiva histórica. Entre as várias coisas que li destaco “Prisioneiros da Geografia” de Tim Marshall (editado em português pela Desassossego), um livro que considero essencial para quem trabalha em comércio internacional. Conforme o titulo indica, o livro aborda a forma como a geografia determina (limitando e potenciando) o desenvolvimento de uma determinada região. A linguagem é simples, o conteúdo é sustentado em factos e pouco em extrapolações.

Mesmo para aqueles que já têm experiência em relações internacionais, o livro é esclarecedor da razão de conflitos recentes (e antigos) como a guerra na Geórgia, a posição da China sobre a Coreia do Norte, as dificuldades de afirmação de Africa e América (central e sul) no panorama internacional. Num momento da história onde a fluidez de tecnologia e a informação parecem tornar a globalização irreversível, foi para mim surpreendente constatar o quanto a geografia continua a ser um factor decisivo.

Esta reflexão teve o condão de me fazer olhar com outros olhos para os critérios de selecção de mercados. As posições da Rússia, China, EUA e Europa no xadrez mundial ficaram mais nítidas e o papel reservado aos restantes também. Perceber a permanente dinâmica de forças entre regiões para além dos políticos de hoje e tendências do momento recordou-me a necessidade que as empresas têm em pensar a sua expansão numa perspetiva de médio prazo:

  • numa estratégia permanente de reduzir dependências (clientes / mercados) e
  • alargar influências (mercados e segmentos de negócio).

Fazê-lo sem perder a identidade é o desafio supremo, difícil mas essencial para o bem-estar futuro da empresa.  Este equilíbrio passa em larga medida pela capacidade que a empresa tem em perceber onde está posicionada no mercado e implementar uma politica agressiva de monitorização de esforço. Esta expressão pomposa alberga:

  • monitorizar a rentabilidade dos clientes,
  • monitorizar a rentabilidade das gamas de produtos
  • monitorizar a rentabilidade das rotas comerciais
  • monitorizar a rentabilidade do esforço de marketing, nomeadamente
    • a taxa de conversão por evento (feiras, promoções a gamas de produtos)
    • definição de objectivos e confirmação de efectivação do trabalho nas redes sociais
  • monitorizar a rentabilidade do esforço de inovação, nomeadamente:
    • o valor do investimento vs. quantidade de novos produtos introduzidos,
    • quantos se mantem ao final de 2 anos e com que rentabilidade intrínseca. 

Se lhe parecem ideias simples, é porque o são. São tão simples e tão óbvias que muitas vezes nos esquecemos de criar rotinas para as fazer. Periodicamente, temos que despir cada área da empresa e ver o essencial e trabalhar a partir daí.

Isso implica criar rotinas que nos retirem do meio do furacão do quotidiano e nos levem para outros campos, preferencialmente fora de tendência e da “next big thing”. Citando o meu conterrâneo e ilustre jornalista Valdemar Cruz: “se não tempo para ler, tem tempo para pensar?”

 

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