O convidado e os seus objectos
Carlos Coelho é um profissional de marketing com 20 anos de experiência na área comercial internacional. Depois de um percurso nos sectores das conservas, calçado e pescado congelado, é desde 2013 consultor em marketing e internacionalização na The Portuguese Diet. Estes são os seus ingredientes que não dispensa no seu dia.
O que os portugueses têm de melhor?
Destaco a capacidade de adaptação e a ambição positiva. Acho que são duas características que estão patentes ao longo da nossa história, como demonstra o facto de um país tão pequeno ter sido um colonizador tão profícuo. A capacidade de adaptação está também bem patente na integração das comunidades portuguesas no mundo e na clássica lenda do “desenrascanço”. A verdade é que muitas vezes a ambição de progredir tem motivado muitos portugueses a “esticar” os recursos disponíveis para obter resultados, seja no desenvolvimento de produtos e serviços, seja negociação com interlocutores de diferentes países.
Povo que mais o surpreendeu.
Tenho o privilegio de ter iniciado a minha carreira no mercado internacional e assim conviver com profissionais de diferentes origens. Acho que o povo que mais me surpreendeu pela sua organização, proactividade e capacidade de negociação foi o senegalês. Foi um dialogo num contexto muito diferente do que estou habituado, mas os princípios da negociação para promoção e distribuição estavam todos lá.
Maior Aprendizagem Profissional
A minha passagem pela extinta Geldouro. Depois de 9 anos no calçado com um calendário de promoção, negociação e distribuição próprio do mundo da moda, encontrei um ritmo muito diferente no meu primeiro contacto com os desafios da distribuição moderna. Foi o período da minha vida profissional onde encontrei mais obstáculos para desenvolver negócio, o que me obrigou a procurar novas formas de chegar a decisores de compras e promover os produtos. Não foi uma história com final feliz, mas fiz parte de uma equipa de gente muito talentosa e o que aprendi foi fundamental para o que veio a seguir.
Maior Desafio Profissional
Conseguir que a The Portuguese Diet vingue como agência de marketing b2b em Portugal. Uma parte importante deste sucesso depende da nossa capacidade de saber interpretar a realidade de cada cliente e formular estratégias e conteúdos suficientemente diferenciadores para reter a atenção dos decisores de compra. Sendo verdade que o marketing b2b não é um conceito novo, a verdade é que a sua implementação à escala de pme ainda está no inicio. Tem sido um trabalho árduo, mas extremamente positivo porque sabemos que estamos a contribuir para que mais empresas cresçam e consolidem a sua presença no mercado internacional.
Pessoas que o inspiram
Muita da inspiração para os conteúdos que desenvolvemos nasce das conversas que tenho com a Paula Pinheiro. Por vezes são conversas de temas extratrabalho, mas que despertam uma faísca que vale a pena explorar, refletir e publicar.
Como toda a gente, tenho alguns “gurus” que gosto de acompanhar e cujos textos me ajudam a pensar. São boas referências, gente capaz de pensar o presente e o amanhã. No capitulo marketing destaco Doug Kessler, Ann Handley, Joe Pulizzi, Chris Brogan, Guy Kawasaki e claro o nosso Antonio Paraiso. Numa vertente sociológica e educacional dois nomes: Malcolm Gladwell e Sir Ken Robinson.
Se pudesse fazer uma pausa de um ano, o que gostava de aprender
Adorava aprender a escrever melhor e a fotografar decentemente.
Sem outras preocupações, passava um ano nisto e tenho a certeza que não me fartava.
Coisas pelas quais de perde
Revistas. Há gente que trabalha maravilhosamente para contrariar de forma inteligente a morte anunciada das edições em papel. Monocle, New Yorker, The Atlantic, Fathers Quarterly e The Heritage Post são exemplos de revistas no conceito “slow Reading” que vale a pena seguir.
Objecto com Estória
A caixa metálica de chicletes do Obama não é o objecto mais importante da minha vida profissional, mas é porventura aquele que encerra a estória mais curiosa.
Em abril de 2010, parti com o colega Adriano Pato para uma viagem de uma semana à China para selecionar fornecedores para a Geldouro. Os objectivos eram ambiciosos e o itinerário era muito preenchido devido ao numero de visitas e à distância a percorrer. Acresce que na altura eu e o Adriano tínhamos uma relação distante fruto da diferença de gerações e de uma vaga sobreposição de responsabilidades. A viagem em si ao foi bastante elucidativa sobre o que é a China industrial de hoje: uma combinação ultracompetitiva de mão de obra barata com tecnologia de vanguarda liderada por negociadores duros.
Ao final de 8 dias aterramos em Shangai exaustos e a ansiar a partida para Frankfurt no dia seguinte. Quis o destino que o vulcão do glaciar Eyjafjallajokull, no sul da Islândia, contrariasse a nossa vontade (e de centenas de milhares de pessoas). Foram os dias das nuvens de cinzas que bloquearam o espaço aéreo europeu, deixando milhares de pessoas na incerteza de quando e como poderiam regressar à Europa. Três dias depois do previsto, o regresso fez-se em 36 horas por uma rota alternativa com escala em de Nova Iorque, onde Obama iniciava o seu ciclo como presidente e a palavra mudança liderava todos os escritos.
No meio deste do imbróglio vulcânico, da intensa experiência profissional e de 8 dias exclusivamente a comida chinesa, nasceu uma amizade que durou para além da saída de ambos da empresa e terminou com a morte prematura do Adriano em 2012. Hoje quando olho para esta pequena caixa de metal é sobretudo dele que lembro.
Presença da Rede
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