A Navalha de Occam

A Navalha de Occam é um principio epistemológico atribuído ao filósofo e monge franciscano inglês William de Occam (1285-1349) que afirma que a explicação para qualquer fenómeno deve assumir a menor quantidade de premissas possível. Apesar de ser um princípio filosófico, a sua formulação está adequada para a vida empresarial.

No actual contexto de sobre estimulação informativa, as empresas tendem a perder o foco no que é essencial para a empresa – a satisfação dos clientes e o reforço da sua competitividade – para adoptar praticas de gestão reactivas ao que o mercado vai ditando como a próxima tendência.

Ao longo dos últimos anos, temos reforçado a importância das empresas criarem mecanismos de superação interna de forma a melhorar a relação com o cliente e otimizarem a sua operação. Compreendemos que as empresas não são ilhas autossuficientes, por isso propomos hoje é identificar 3 áreas que acreditamos as empresas devem explorar para reforçar a sua competitividade e ajudar a estabelecer diferenciação. A saber:

  • portabilidade e mobilidade
  • sustentabilidade e
  • princípio da economia global

Portabilidade e Mobilidade
A Statista publicou recentemente duas estatísticas que reforçam a importância crescente de portabilidade e mobilidade. A primeiro gráfico incide sobre as vendas de maquinas fotográficas a nível mundial.

 

Conforme podemos observar pelo gráfico, existe um crescimento sustentado desde a década de oitenta até ao início do século seguido de um crescimento exponencial em pouco mais de 5 anos. De 2010 a 2017 as vendas caem mais de 75% recuando a valores de 1990.

A evolução tecnológica alcançada no início dos anos 2000 permitiu desenvolver máquinas de elevada performance a preços acessíveis, massificando o acesso ao equipamento. Só que a melhoria significativa da tecnologia também foi aplicada ao telemóvel que beneficiou do advento das redes sociais (todas as existentes criadas após 2007) para estabelecer uma vantagem diferenciadora: a comodidade pelo utilizador de com um único equipamento fotografar, editar e partilhar.

A vantagem de qualidade da fotografia proporcionada pelas máquinas fotográficas face aos telemóveis esfuma-se com o propósito da maioria das fotografias: registar e partilhar no imediato. A qualidade proporcionada pelo telemóveis é assim boa o suficiente para dispensar o uso de outro equipamento.

O segundo gráfico partilhado pelos Statista dá às empresas uma visão de mais largo prazo e respeita às preferências de comunicação dos adolescentes americanos (13 a 17 anos).

 

Comparando as preferências manifestadas por esta faixa etária em 2012 e no presente destaca-se a menor preferência pelo contacto pessoal e uma consolidação do contacto por mensagens. Estas preferências da forma de comunicação podem parecer uma assunto distante se não trabalhamos em tecnologia ou com o mercado de adolescentes nos EUA, contudo são informações relevantes para perceber a evolução das preferências de consumo. Um adolescente que interage preferencial por via tecnologica e não presencial tenderá a replicar esse comportamento em outras interações sociais, nomeadamente como consumidor ou mesmo no papel de comprador.

São dois exemplos de como as soluções de mobilidade existentes podem condicionar a vida da sua empresa.

Sustentabilidade
O assunto tem pelo menos 3 décadas, mas parece ter sido necessário chegarmos perto do ponto de não retorno para esta matéria ganhar destaque e obrigar os governos a introduzir leis que conduzam a práticas de gestão mais sustentáveis para resíduos gerados pela indústria e pelo consumo.

O negócio de gestão de resíduos é hoje um dos mais importantes (e sensíveis) mundialmente. Países que outrora aceitavam armazenar os resíduos de países mais desenvolvidos começam agora a criar restrições para este movimento. Como consequência, os países “ricos” têm de encontrar soluções dentro do seu próprio território para processar e armazenar resíduos, sendo a naturalmente a forma mais eficaz de o fazer através da redução da quantidade e tipologia de materiais que vão entrar no sistema de processamento.

As iniciativas europeias relativas à proibição de servir comida e bebida em embalagens de plástico não resultam de uma estratégia política, mas de inevitabilidade. Em consequência, a redução dos resíduos gerados industrialmente e sobretudo os resíduos gerados finda a vida útil dos produtos (sejam embalagens, sejam eletrodomésticos ou viaturas) conduzirá a uma alteração nos materiais adoptados para embalagens, revestimentos e componentes. A alteração por via legislativa é inevitável, mas a adoção antecipada destas práticas pode revelar-se uma vantagem competitiva diferenciadora

 

Economia Global
Fruto da evolução tecnológica e de largo período de paz mundial, a maioria das empresas ocidentais pode pensar no seu negócio à escala global. É assim nas ultimas décadas, mas pela primeira vez sucede num contexto de crescimento económico lento, onde os sectores primário e secundário parecem ter estagnado. Permitam-me retirar daqui duas notas:

  1. que num contexto de menor crescimento global, os governos se sintam tentados a adotar medidas protecionistas por potenciar as suas indústrias face a economias mais competitivas
  2. as consequências da adopção de medidas protecionistas por parte de um ou mais países relevantes no comercio mundial no contexto de elevada interdependência económica é um caso sem precedentes. Ninguém verdadeiramente sabe o que pode acontecer com a escalada protecionista promovida pelos EUA e o impacto que isso pode ter na evolução da economia chinesa. Se o mercado interno chinês (ou outros destinos que não os EUA) forem capazes de alimentar a indústria chinesa, estaremos a assistir à emergência e consolidação de um novo líder global. As implicações são enormes e podem no espaço de uma década mudar a forma como fazemos negócio.  Se por outro lado, uma guerra comercial tiver sério impacto da indústria chinesa, poderemos estar a assistir a uma subida importante dos preços de tudo o que é lá produzido com impacto em todos os países, mais ainda em economias como a portuguesa.

A importância destas notas no quotidiano de uma PME portuguesa não implementada nos EUA e/ou China ganha relevância na necessidade de diversificar o risco, isto é, considerar a possibilidade de manter as suas operações em geografias ou segmentos de negócio que possam ser complementares (para rentabilizar a operacionalidade), mas que possam ser alguma imunidade de contágio em caso de problemas.

Sobre esta matéria o Expresso publicava este fim de semana um artigo muito interessante sobre cinco principais riscos do comércio mundial. Merece a pena ler porque são riscos distintos e envolvem diferentes de blocos económicos.

 

Nota final
Considerando o atual clima económico e social a nível mundial, a nossa principal preocupação como consultores é contribuir para que as empresas concentrem os seus esforços promovendo a sua competitividade e desenvolvendo produtos desenhados para facilitar a vida dos consumidores, nomeadamente integrando soluções de mobilidade, sustentabilidade e economia global.

O texto desta semana saiu mais longo que o previsto, mas acredito que a temática assim o exigia. É muito importante para nós percebermos se o que abordamos corresponde ao que procura. Sempre que possivel deixe-nos uma palavra para nos ajudar a evoluir.

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